Fortes chuvas no Sul, secas acentuadas no Norte e Nordeste. O Brasil vive um momento de contrastes causados por eventos climáticos extremos, que são um alerta do desafio global oferecido pelas mudanças climáticas. Conservar o meio ambiente é a ferramenta mais poderosa que podemos usar contra essas mudanças.

Diferente da realidade de outros países, os brasileiros não precisam se preocupar com erupções vulcânicas ou terremotos, já que estamos no meio de uma placa tectônica, onde a incidência destes eventos é rara. Porém, existe uma série de eventos climáticos como chuvas fortes, secas, incêndios florestais e ciclones que acometem eventualmente o nosso território, causando grandes prejuízos para a população e para a vida selvagem. Como se não bastasse, a intensidade destes eventos extremos vem aumentando.

A maré crescente de condições climáticas extremas

No último mês, o estado do Pará registrou o setembro menos chuvoso em 32 anos, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia – Inmet. 

No Amazonas, a seca foi tão severa que o estado perdeu em área alagada o equivalente a nove vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Foram 13,9 mil km² de superfície de água perdidos em um ano. Um número lamentável de botos mortos foi registrado na região. Cerca de 140 botos-cor-de-rosa e tucuxis foram encontrados sem vida ao longo do lago Tefé. Os picos de 40°C de temperatura e a seca histórica estão entre as suspeitas das causas de morte.

Juntando a região Norte e Nordeste, tivemos 8 estados enfrentando a maior seca dos últimos 40 anos. Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemadem), Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Maranhão, Piauí, Bahia e Sergipe apresentaram os menores índices de volume de chuva (em milímetros) desde que se tem registro, em 1980.

Enquanto isso, no Sul do país o cenário é diametralmente oposto. Santa Catarina e Rio Grande do Sul enfrentaram inundações catastróficas causando mortes e deixando milhares de pessoas desabrigadas. As fortes chuvas levaram algumas regiões destes estados a acumular cerca de 400 mm dentro de um mês, segundo o MetSul Meteorologia. Para a capital do Rio Grande do Sul, setembro foi o mês com maior volume de chuva em 107 anos.

As causas do desbalanço climático 

O El Niño é apontado como causador destas anomalias de clima seco ao norte e úmido ao sul. Inclusive o fenômeno foi previsto em junho por cientistas do órgão estadunidense NOAA – Administração Nacional Oceânica e Atmosférica. No entanto, a intensidade dos efeitos do El Niño parece estar aumentando a cada ano.

O aquecimento global também é causa desse clima mais imprevisível. O aumento da temperatura do planeta é só uma das consequências, mas por conta das mudanças em nível acelerado, fica cada vez mais propenso a surgirem estes eventos climáticos extremos, ou fora de época.

Não tem como falar de aquecimento global e não abordar a influência antrópica da questão. Atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis já foram fortemente associadas ao aumento da temperatura global, porém diversas ações estão contribuindo de maneiras diferentes para a destruição de habitats naturais e por consequência, o colapso climático.

O que talvez muitos não percebam, é a existência de um efeito bola de neve nos impactos ambientais. Fato que justifica esta ideia de colapso da Terra como a conhecemos hoje. 

Um exemplo claro disso são as altas das queimadas criminosas na região amazônica justamente durante os períodos de estiagem. Os criminosos aproveitam a falta de chuva para “limpar” áreas de floresta e contrabandear madeira. O que não imaginam, é quanto essa atitude pode ter efeitos irreversíveis para a manutenção do meio ambiente.

Inclusive, em 2022 uma das áreas do Instituto Libio destinada à preservação ambiental, a Gleba São Benedito, foi vítima de queimadas ilegais.

floresta queimada
floresta queimada com veado entre as árvores

Registros da Gleba de São Benedito no Pará destruída por um incêndio criminoso. Acervo Instituto Libio.

Como os ecossistemas auxiliam a manter o clima estável?

Sequestro de carbono: os ecossistemas, especialmente o oceano, e as florestas, atuam como sumidouros de carbono, absorvendo e armazenando quantidades significativas de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, que é um dos principais impulsionadores das alterações climáticas.

Manutenção da água e temperatura: as zonas úmidas e as florestas ajudam a regular os ciclos da água, alimentando os lençóis freáticos e liberando gradualmente a água. A cobertura vegetal reduz o risco de inundações, erosão e secas, e ainda, ajuda a manter o equilíbrio térmico da região.

Resiliência da biodiversidade: ecossistemas diversos são mais resilientes às mudanças ambientais por estarem mais bem equipados para se adaptarem e responderem às mudanças nas condições externas.

Proteção das áreas costeiras: um tópico muito importante é a manutenção das linhas de costa das cidades litorâneas. Ecossistemas como manguezais, costões rochosos e recifes de corais atuam como barreiras naturais contra tempestades e erosão costeira. A proteção destes ecossistemas pode ajudar a mitigar os impactos da subida do nível do mar e das tempestades mais fortes causadas pelas alterações climáticas.

Em resumo, a preservação dos ecossistemas ajuda a abrandar as alterações climáticas através do sequestro de carbono, da regulação dos padrões climáticos, da proteção contra fenômenos meteorológicos extremos e do apoio a vários serviços ecossistêmicos que são vitais para o bem-estar humano. Como tal, os esforços de conservação, reflorestamento, a gestão sustentável dos solos e a proteção da biodiversidade são componentes críticos de qualquer estratégia para enfrentar as alterações climáticas e os desafios associados. Só uma ação conjunta será verdadeiramente capaz de alterar as mudanças climáticas em curso no planeta.

O número crescente de eventos climáticos extremos no mundo vem causando um impacto substancial não só no meio ambiente como na sociedade. Segundo uma estimativa da Agência da ONU para Refugiados, o número de refugiados climáticos, isto é, pessoas com necessidade de assistência humanitária devido a desastres, poderá chegar a 200 milhões anualmente até 2050.

Como sempre, as camadas mais pobres da população são as mais vulneráveis em situações de crise climática, portanto, é importantíssimo atrelar o combate às mudanças climáticas com a igualdade social. 

A colaboração, tanto a nível nacional como internacional, é essencial para abordar as causas profundas destes eventos extremos e desenvolver soluções sustentáveis ​​para o futuro.

Autor: Monique Rached – Instituto Libio

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