O Brasil é um país detentor de uma grande biodiversidade e, em razão disso, torna-se um alvo em potencial para os traficantes de animais silvestres. 

O tráfico de animais silvestres é uma prática criminosa que abrange a captura, transporte e comercialização ilegal de animais. A lucratividade desse comércio é enorme e os danos ao meio ambiente ainda maiores. Apesar de parecer não haver saída, não se pode visualizar essa problemática como sem solução. Ainda há esperança!

Para diminuir a ameaça à fauna brasileira e combater o tráfico de animais, são necessárias medidas educacionais que desestimulem essa prática ilegal por meio da sensibilização e capacitação de crianças e jovens através da educação ambiental a fim de promover uma mudança de mentalidade e atitude em relação à caça, a captura e a posse de animais silvestres.  

Alunos da EMEF Coronel Esmédio na oficina de apresentação do projeto “De Olho na Natureza de Porto Feliz”
Acervo Instituto Libio

O tráfico de animais silvestres

Você já ouviu falar que o Brasil está entre os países com maior riqueza de biodiversidade do mundo? Pois é, ele ocupa a primeira posição em número total de espécies da fauna e flora, razão pela qual, infelizmente, é fonte de cobiça de colecionadores e comerciantes. O comércio ilegal de vida silvestre, incluindo a fauna e seus subprodutos, movimenta de 10 a 20 bilhões de dólares por ano, sendo a terceira maior atividade ilícita do mundo, depois das armas e das drogas (RENCTAS). O Brasil contribui com 5 a 15% do total mundial, chegando à estimativa de 38 milhões de indivíduos retirados da natureza anualmente.

Essa atividade ilegal compreende a retirada e venda de animais vivos ou de partes do animal (como chifres, pele, ou outras partes do corpo) e acontece de forma clandestina.

O tráfico de animais é caracterizado pela captura de animais silvestres do seu habitat natural e sua destinação ao comércio ilegal. Esses animais são destinados a colecionadores, laboratórios que realizam testes com medicamentos ou cosméticos, comerciantes ilegais de peles, couros e outras partes dos animais e pessoas que compram para usar esses animais como de estimação, sem saber do prejuízo ambiental que estão causando.

Essa atividade ameaça a biodiversidade: coloca em risco a sobrevivência de diversas espécies, desequilibra os ecossistemas, transmite doenças, além de outros impactos negativos. A captura de espécies por meio do tráfico de animais silvestres causa impacto não somente na população de uma determinada espécie, mas em todo o ambiente e nos outros indivíduos com os quais ela se relaciona, uma vez que a fauna e flora de um ecossistema estão conectadas e suas interações complexas são modificadas pela atividade ilegal.

Dentre os animais mais traficados estão as aves, correspondendo a 80% do total apreendido. Isso ocorre porque esses animais têm uma coloração e vocalização que atraem a atenção das pessoas. 

O comércio ilegal da fauna é alimentado pela demanda de compra das pessoas. Se não houver essa demanda, essa atitude predatória perderá sua força e, consequentemente, a lucratividade. 

Educação Ambiental é a solução?

A falta de conhecimento frente às questões ambientais leva as pessoas a realizar atos danosos ao ambiente sem ter dimensão das consequências.

Um dos objetivos da educação ambiental é atingir pessoas. Parte-se do princípio de que todos devem ter oportunidade de acesso às informações necessárias para participar ativamente na busca de soluções para os desafios ambientais que enfrentamos atualmente. 

Ressaltar a importância da fauna no seu ambiente natural e os impactos que esse animais sofrem é de extrema importância na busca de uma mudança deste paradigma consolidado na sociedade contemporânea.

Dessa forma, a educação ambiental é uma das alternativas para tentar solucionar a problemática do tráfico de animais silvestres, e aponta como importante meio de conscientizar pessoas a não comprarem animais silvestres, seja de forma legal ou ilegal.

A educação ambiental desperta um senso de responsabilidade em relação aos valores de preservação e cuidado, colocando em prática as ações ambientais e carregando esse conhecimento durante toda a vida.

Ações educativas realizadas com crianças e jovens no ambiente escolar tendem a ser positivas, devido às mudanças de hábito nessa fase de vida e por aceitarem facilmente novas informações. Conscientizar crianças é mais fácil do que um adulto, que já está com hábitos formados, acostumado. Não é impossível, mas é mais difícil. Por isso, atingir as fases iniciais é o caminho.

Campanhas, oficinas e outras atividades complementares que abordam o assunto da fauna são fundamentais na formação do aluno como cidadão, porém há a necessidade de um trabalho contínuo em sala de aula, de modo a quebrar a cultura de posse e domínio sobre os animais silvestres, enraizada na cultura. 

Quando os alunos têm contato com a temática do tráfico de animais silvestres passam a entender o papel ecológico que esses animais exercem na natureza, permitindo entender que podem ser admirados em vida livre. Não é necessário tê-los como animais de estimação. 

Alunos da EMEF Profª. Vilma Fernandes Antonio conhecendo os cachorros-do-mato na visita ao Mantenedor do projeto “De Olho na Natureza”.
Acervo do Instituto Libio

“De Olho na Natureza”: um projeto feito de esperança!

No blog anterior , contamos brevemente sobre o projeto “De Olho na Natureza” que traz uma forte vertente sobre a temática do tráfico de animais silvestres.

O projeto tem um diferencial no que diz respeito à formação do pensamento crítico no aluno, abrindo espaço para o diálogo entre aluno-professor de forma leve e agradável. O projeto busca despertar, no aluno, uma mudança de atitudes, de valores e de paradigmas, que resultem em gerações de jovens capacitados para lidar com as problemáticas ambientais atuais. É capaz de unir teoria à prática através de oficinas de educação ambiental ministradas nas escolas da rede municipal de ensino e visitas monitoradas ao Mantenedor de Fauna Silvestre do Instituto Libio.

De maneira simples, o projeto desperta no aluno a correlação da sua vida com o ecossistema da região onde vive, entendendo, por exemplo, “que um riacho próximo a sua casa faz parte do meio ambiente”, o que aumenta a sua capacidade de compreender o conteúdo e de sentir-se sensibilizado a conservá-lo. É capaz de despertar o entendimento sobre o conceito de animal silvestre, “mostrando que o pássaro que faz ninho numa árvore, o gambá que aparece à noite e o lagarto que toma sol no jardim são animais silvestres”.  

Durante muitos e muitos anos, “criar uma ave na gaiola ou um macaco, por exemplo, foi feito sem controle, de forma desordenada”. A Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), que trata da proteção do meio ambiente e reparação do dano ambiental é relativamente nova, tendo surgido para suprir uma lacuna existente na legislação ambiental brasileira.

Um dos questionamentos feitos com frequência pelos alunos durante as oficinas do projeto é: “qual o motivo das pessoas quererem prender animais em gaiola e porque isso se tornou tão comum?” Infelizmente, muitos ainda acham normal ter esse tipo de animal em casa e acabam dando exemplos negativos às nossas crianças e jovens de hoje. As pessoas não sabem o mal que estão fazendo para esses animais quando compram para cuidar como estimação e para o equilíbrio do meio ambiente.

Um dos casos retratados durante o projeto que sensibiliza os alunos para o tráfico de animais silvestres é a Arara-vermelha Dodó que foi alvo dos traficantes e teve seus olhos queimados. 

Arara-vermelha (Ara chloropterus) Dodó vítima de maus-tratos e do tráfico de animais silvestres.
Acervo Instituto Libio

Nas fases iniciais do desenvolvimento, as crianças têm bastante contato com livros didáticos brasileiros que “deixam a desejar” quando o assunto é fauna nativa, pois muitas das figuras utilizadas nesses livros infantis priorizam os animais exóticos, levando ao desconhecimento dos animais da nossa fauna e seu status de conservação.    

O projeto “De Olho na Natureza” tem um enfoque nos animais da fauna brasileira, além de explicar a diferença entre um animal silvestre, exótico e doméstico, reforçando que qualquer animal silvestre deve ser mantido em seu ambiente natural e não somente aqueles que os alunos consideram “ameaçadores”, como: onças-pintadas, onças-pardas ou lobos-guará, vistos em “desenhos” ou “histórias em quadrinhos”. Assim, esclarecendo que existem outras espécies silvestres e que cada animal desempenha um papel ecológico de extrema importância, mas que para isso acontecer ele precisa estar na natureza!

Cabe destacar que, por meio do projeto, o aluno consegue assimilar que a atividade ilícita de comercializar e caçar animais causa um grande desequilíbrio ao ecossistema, consequências para a saúde pública e para a conservação da biodiversidade, além de trazer uma série de outros riscos ao meio ambiente.

Um dos pontos importantes abordados nas oficinas do projeto é que o comércio legal de animais silvestres está diretamente relacionado com o comércio ilegal de animais, fazendo-os entender que isso “acontece”, porque o mercado legal desperta um grande interesse nas pessoas e normaliza o uso da fauna como um produto a ser consumido, despertando nas pessoas o desejo de ter um animal de estimação.

Nota-se uma sensibilização maior nos alunos após conhecerem os animais no Mantenedor do Instituto Libio e saber sobre suas histórias, além de terem consciência dos maus-tratos ou até mesmo da morte dos animais, ocorridos durante o transporte, a captura ou em consequência da retirada do animal do seu ambiente natural. 

Espera-se que crianças e jovens se transformem em multiplicadores do conhecimento e disseminem a mensagem às pessoas próximas e que, ao se depararem com alguma situação de maus-tratos ou presenciarem o comércio ilegal de fauna silvestre, possam exercer seu papel de cidadão denunciando e participando do combate aos crimes ambientais.

Faça parte dessa rede e compartilhe com seus amigos e familiares a importância de manter os animais silvestres em seus ambientes naturais! O animal é bonito em vida livre! Legal ou ilegal eles sofrem! Não compre!  Animal Silvestre Não é Pet!

Alunos da EMEF Profª. Vilma Fernandes Antonio conhecendo os macacos-prego e a história dos animais.
Acervo do Instituto Libio

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