O tráfico de animais é uma prática criminosa que representa uma ameaça significativa para a biodiversidade em todo o mundo. A captura e transporte de animais muitas vezes envolve a crueldade e violência contra animais, resultando em sofrimento e morte de inúmeros espécimes. O Brasil é o país mais biodiverso do mundo e, portanto, um alvo frequente para o tráfico de animais. Neste dossiê, exploraremos mais sobre essa atividade criminosa, suas causas e consequências e o que podemos fazer para combatê-lo. Confira!

O tráfico de animais silvestres

O tráfico de animais é uma das atividades criminosas mais lucrativas do mundo e uma das que mais impacta a biodiversidade. De acordo com um levantamento realizado pela Organização das Nações Unidas, esse comércio movimenta bilhões de dólares anualmente e chega a retirar cerca de 38 milhões de animais da natureza

As principais causas do tráfico de animais incluem a procura por animais exóticos como animais de estimação, o uso de partes de animais em rituais ou medicina tradicional e a busca pelo lucro financeiro, além da alta demanda por produtos de origem animal, como peles, chifres, marfim, carne e escamas, como é o caso do pangolim. 

Escamas de pangolim apreendidas na alfândega de Hong Kong. Foto: Anthony Wallace / National Geographic.

Muitas pessoas querem ter animais exóticos como animais de estimação, o que leva muitas espécies a serem comercializadas, diversas são traficadas devido suas características raras e exclusivas. Quanto mais diferente, mais procurado será o animal.

Espécies de aves (papagaios, araras, falcões e gaviões), tartarugas, serpentes, macacos, lêmures, e grandes felinos, como tigres, leões e leopardos, são os que mais sofrem com essa atividade cruel. No entanto, outras espécies icônicas como elefantes, rinocerontes, pangolins e tubarões, também são frequentemente traficadas. Muitos desses animais são capturados em seus habitats naturais e transportados para outras partes do mundo, onde são vendidos como pets ou para fins comerciais.

O tráfico de animais tem graves consequências para a natureza, podendo levar muitas espécies ao colapso total. 

A retirada de animais da natureza pode impactar gravemente o equilíbrio de um ecossistema, já que muitas espécies desempenham papéis fundamentais na manutenção do equilíbrio ecológico do ambiente, seja como predadores, polinizadores ou dispersores de sementes.  

A “quebra na cadeia ecológica” pode desencadear um efeito cascata no meio ambiente. Sem contar que muitas vezes o tráfico de animais é acompanhado de outras atividades ilegais, como a destruição de habitats naturais e a caça ilegal, o tráfico de drogas e armas, o que agrava ainda mais a situação.

Essa atividade criminosa afeta todos os continentes, no entanto, alguns países são mais procurados como origem, trânsito ou destino de animais ilegais. Segundo o World Wildlife Fund (WWF), os países mais impactados pelo tráfico de animais são China, Vietnã, Laos, Camboja, Tailândia e Filipinas, que correspondem aos principais mercados de espécies em risco de extinção

O Brasil e a África também são classificados como importantes fontes para o contrabando de animais selvagens devido à riqueza de sua biodiversidade.

Brasil: um dos principais alvos de traficantes

O Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta e ocupa a primeira posição no ranking mundial. Por conta disso, também acaba sendo uma das maiores vítimas do tráfico de animais, atividade criminosa que impacta diretamente a conservação da nossa fauna e flora, colocando diversas espécies em risco de extinção.

A rota do tráfico compreende diferentes regiões do país, tendo início na região nordeste, passando pelo norte e centro-oeste, chegando ao sudeste, região que concentra o maior mercado consumidor de fauna silvestre do Brasil

O tráfico engloba praticamente todos os biomas brasileiros, sendo Cerrado, Caatinga, Amazônia e Pantanal os mais afetados.

 

Araras resgatadas do tráfico de animais. Foto: Instituto Libio.

Entre as espécies mais afetadas pelo tráfico no país, estão as aves, como papagaios, araras e tucanos – que compreendem a 80% das apreensões; os répteis, como espécies de serpentes, tartarugas e jabutis; primatas, como saguis e macacos-pregos; além de felinos e marsupiais. 

E por aqui, nem os anfíbios escapam do tráfico… Algumas espécies raras como o sapinho ponta-de-flecha e a perereca-de-leite da Amazônia têm sido constantemente vítimas dessa prática.

Sapos ponta-de-flecha (Adelphobates galactonotus) resgatados pelo IBAMA. Foto: IBAMA.

Sabia que um fungo introduzido pelo tráfico de animais pode exterminar os anfíbios do Brasil? Confira o artigo da Revista FAPESP sobre o assunto aqui.

Todas essas espécies silvestres são muito procuradas por traficantes por sua beleza exótica e raridade, o que faz com que muitas delas sejam vendidas a preços altos no mercado clandestino.

Quem são os criminosos?

Em áreas rurais ou economicamente vulneráveis, moradores locais podem se envolver no tráfico de animais como forma de sobrevivência. Devido à falta de oportunidades e ao acesso restrito à educação, muitos indivíduos acabam recorrendo ao tráfico de animais como uma fonte de renda.

Há localidades em que a captura e venda de animais selvagens são vistas como uma forma legítima de ganhar dinheiro. As pessoas são recrutadas por traficantes experientes que oferecem pagamento em troca da captura e transporte de animais silvestres. Os envolvidos muitas vezes não tem nem consciência dos danos que estão causando à biodiversidade ou dos riscos que correm, tanto por sua segurança quanto pela própria saúde. 

A falta de educação e conscientização sobre os impactos negativos do tráfico contribui para que mais pessoas se envolvam nessa atividade ilegal sem pensar nas consequências.

Esse sem dúvidas é um problema complexo e que exige uma série de ações integradas para ser combatido. A educação e a conscientização, juntamente com a oferta de alternativas econômicas sustentáveis, são fundamentais para reduzir o impacto do tráfico de animais em determinadas áreas e comunidades.

Contudo, os principais traficantes de animais no Brasil são, em sua maioria, criminosos organizados que atuam em escala internacional e são principalmente vindos da Ásia e Europa. Geralmente, são altamente especializados e têm uma rede de contatos que abrange diferentes países, incluindo fornecedores, intermediários e compradores finais.

Eles vêm ao país em busca de espécies raras e exóticas que são encontradas na natureza brasileira, e que possuem grande valor comercial no mercado clandestino.

Esses traficantes utilizam diferentes estratégias para retirar os animais da natureza, como a captura com armadilhas e redes, o abate ilegal de animais para a retirada de partes do corpo, e até mesmo a invasão de áreas protegidas.

Armadilhas para capturar tatus. Foto: ICMBio.

Costumam recorrer às mesmas rotas e estratégias utilizadas em outras atividades criminosas para transportar os espécimes, percorrendo rotas terrestres, marítimas e aéreas para levar os animais para fora do país.

Independentemente do tamanho ou da escala da atividade criminosa, o tráfico de animais silvestres é uma prática terrível e prejudicial. Infelizmente, ao mesmo tempo que se destaca em riquezas naturais, o Brasil também vem ganhando destaque como um dos principais países importadores de espécies exóticas ilegais.

Foto: Petrus Riski/Mongabay

Biodiversidade ameaçada

O tráfico de animais ameaça a biodiversidade de diversas formas. Além de causar o desequilíbrio dos ecossistemas, a remoção de uma ou mais espécies pode desencadear um efeito dominó afetando outras espécies, alterando a cadeia alimentar e causando impactos na reprodução e alterando a dinâmica e a estrutura ambiental.

O contrabando de animais contribui para a redução do número de indivíduos de uma determinada população, tornando a espécie mais vulnerável a fatores como a predação, doenças e alterações ambientais. A comercialização de espécies ameaçadas de extinção, por exemplo, coloca em risco a sobrevivência desses animais e a manutenção da diversidade biológica.

E ainda, favorece significativamente a introdução de espécies exóticas! Muitas vezes, animais são retirados de seus habitats originais para serem comercializados como pets em outros países. Quando esses animais escapam ou são abandonados, acabam se tornando espécies invasoras… 

A espécie exótica pode causar sérios impactos à fauna nativa, competindo por recursos e até mesmo espalhando doenças ou parasitas que afetam a saúde de animais e plantas locais, comprometendo ainda mais a biodiversidade.

É importante destacar que a introdução de espécies exóticas é uma das principais causas de perda de biodiversidade em todo o mundo. Preocupante, não é mesmo?

Outro grande problema é o risco de surgimento de novas pandemias. Pois é! Sabia que o tráfico de animais pode acarretar nisso? 

Comércio de morcegos. Foto: Rony Adolof Buol/Folha de São Paulo.

A transmissão de doenças zoonóticas, como a COVID-19, pode ser facilitada pelo tráfico de animais, principalmente de espécies exóticas. Esses animais podem ser portadores de vírus e bactérias altamente patogênicos, que podem se espalhar rapidamente e causar impactos devastadores na saúde pública.

Como combater o tráfico de animais silvestres no Brasil?

Agora que já sabemos como se dá e quais os efeitos dessa preocupante atividade criminosa, está na hora de compreendermos o que podemos fazer para combater ou minimizar esse problema. 

Como vocês puderam ver, o tráfico de animais é uma atividade criminosa que tem graves consequências para a biodiversidade e para a própria humanidade. A retirada de animais selvagens de seus habitats pode causar grandes desequilíbrios, reduzir a variabilidade genética das espécies e disseminar doenças. 

Além disso, a captura e transporte de animais muitas vezes envolve a crueldade e violência contra animais, resultando em sofrimento e morte. Por isso, precisamos fazer alguma coisa!

Cada um pode fazer a sua parte e ajudar nessa luta. Algumas atitudes que podem ser adotadas, são:

  • Denunciar o comércio ilegal de animais silvestres: caso tenha informações sobre alguma atividade ilegal relacionada ao tráfico de animais, é importante denunciar às autoridades competentes, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) ou a Polícia Ambiental.
  • Não comprar animais silvestres: ao adquirir animais silvestres, você está alimentando o mercado ilegal de animais e contribuindo para a retirada de animais de seus habitats naturais. Portanto, não compre animais silvestres, mesmo que sejam oferecidos a preços atrativos.
  • Apoiar iniciativas de conservação da biodiversidade: você pode apoiar organizações e iniciativas que trabalham para proteger a biodiversidade e combater o tráfico de animais. Isso pode incluir a doação de recursos financeiros, o voluntariado ou a participação em eventos e atividades de conscientização.
  • Respeitar a legislação ambiental: conheça as leis e regulamentações que regem a proteção da biodiversidade e respeite-as. Isso inclui não capturar, manter ou transportar animais silvestres sem autorização e não comprar produtos derivados de animais silvestres, como peles, penas, ossos e órgãos.
  • Educar e conscientizar outras pessoas: você pode compartilhar informações sobre o tráfico de animais silvestres com sua família, amigos e comunidade. Isso pode incluir a divulgação de campanhas de conscientização nas redes sociais ou a organização de eventos locais para promover a conservação da biodiversidade.

Claro, é fundamental que governos, organizações e indivíduos trabalhem juntos. Sem dúvidas, é necessário que haja maior rigor nas leis ambientais, na fiscalização e nas penalizações, bem como investimento em equipamentos e treinamento adequado para os agentes ambientais, além da implementação públicas realmente efetivas para a conservação da biodiversidade.

A conscientização e a ação coletiva podem ajudar a proteger a fauna e a flora do planeta e garantir um futuro melhor para todos.

O Instituto Libio acolhe animais silvestres vítimas do tráfico e dos maus tratos e você pode nos ajudar nessa causa! Acesse nosso site clicando aqui e doe para os animais do instituto.

Autor: Juliana Cuoco Badari – Greenbond. 

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