Você já se perguntou por que tantas aves estão em mantenedores de fauna, Centros de Triagem de Animais Silvestres CETAS ou Centros de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), mas poucas voltam à natureza? Essa realidade reflete os desafios complexos que envolvem a soltura e reintrodução de animais silvestres vítimas do tráfico à natureza. Neste artigo de blog, te contamos um pouco sobre as dificuldades que cercam essa importante questão. Acompanhe essa jornada pela conservação e explore as barreiras enfrentadas para dar a essas aves uma nova chance na natureza. Continue lendo para entender melhor!
Os impactos do tráfico na biodiversidade
A biodiversidade global está enfrentando uma crise alarmante, com ecossistemas vitais sofrendo desequilíbrio e inúmeras espécies enfrentando ameaças iminentes de extinção. Dentre os principais fatores, o tráfico de animais ganha destaque, uma vez que é um problema que não apenas amplifica a perda de diversidade biológica, mas também desencadeia impactos ambientais negativos.
O tráfico de animais silvestres, um mercado clandestino de exploração, retira diferentes espécies animais de seus habitats naturais para atender a uma demanda crescente por animais silvestres como pets. Essa atividade cruel e ilegal não apenas compromete a sobrevivência das espécimes envolvidas, mas também desencadeia um desequilíbrio nas cadeias alimentares, afeta a interconexão dos ecossistemas, além de contribuir com a disseminação de doenças.
De acordo com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), cerca de 38 milhões de animais são retirados da natureza a cada ano no país. Acredita-se que poucos deles chegam vivos ao destino, já que se acredita que apenas um animal sobrevive para cada dez que são traficados.
Esse crime contribui para o declínio de populações, aumentando a vulnerabilidade das espécies frente à predação, doenças e transformações no ambiente. O comércio de animais ameaçados de extinção acentua ainda mais os riscos, comprometendo a sobrevivência e a riqueza da biodiversidade.
Além disso, o tráfico de animais silvestres e exóticos desencadeia a introdução de espécies em novos habitats. Animais retirados de seus ambientes naturais para serem vendidos como animais de estimação em outras nações podem se tornar invasores, provocando competição por recursos e disseminando doenças, ameaçando a fauna e flora locais.
Essa introdução de espécies exóticas constitui uma preocupação global, pois é capaz de causar perda de biodiversidade.
Ainda mais grave, o tráfico de animais também traz à tona o risco de novas pandemias. Algo muito preocupante, certo? O comércio facilita a propagação de doenças zoonóticas, como a própria COVID-19, especialmente por meio de espécies exóticas que podem ser portadoras de vírus e bactérias nocivas à saúde humana.
Quer aprofundar-se nesse tema crucial? Temos um dossiê sobre tráfico de animais silvestres em nosso blog para te ajudar a entender melhor a dimensão desses desafios e o que podemos fazer para combater esse crime.
Um olhar sobre os números
Entre 1999-2000, o Ibama fez apreensões de animais traficados e pode constatar que a maioria deles eram aves (82%), seguidas por répteis (3%) e mamíferos (1%). As aves são atraentes para traficantes e compradores devido à sua beleza, canto e inteligência.
Um estudo revelou que no Brasil mais de 295 espécies de aves são vendidas ilegalmente como animais de estimação. Isso representa mais de 20% das aves do país. Muitas são destinadas ao mercado interno, e a maioria é de passeriformes, conhecidos por seus cantos melodiosos.
Ainda mais alarmante é o fato de que cerca de 80% das aves traficadas pertencem a apenas 10 espécies. Sim, apenas 10 tipos de aves sofrem enormemente com o comércio ilegal! Entre 2005-2009, dados mostram que as aves canoras silvestres são as mais apreendidas. Aproximadamente 40% de todas as espécies que foram extintas desde o ano de 1500 foram afetadas devido à exploração para comercialização.
Felizmente, esforços estão sendo feitos para mudar essa realidade. Alguns centros de reabilitação e acolhimento de animais silvestres estão trabalhando para resgatar, reabilitar e reintroduzir essas aves.
Depois da apreensão vem a soltura? O desafio de destinar aves após o tráfico
Entender o que acontece com as aves apreendidas após o tráfico é essencial. Após a apreensão, as aves precisam ser destinadas corretamente. A Instrução Normativa Ibama nº 23/2014 define opções, como retorno à natureza, permanência em cativeiro, programas de soltura, instituições de pesquisa ou até mesmo eutanásia.
Em muitos casos, as aves são soltas sem planejamento, o que pode ser prejudicial. Todoas os animais apreendidos vão para os CRAS ou CETAS, mas nem sempre há lugares suficientes para que eles permaneçam. Essas instituições Esses órgãos, então, são responsáveis por indicar o destino das aves. Algumas permanecerão em cativeiro, sendo destinadas a mantenedores de fauna que ficam responsáveis pelo acolhimento, ou zoológicos ou até mesmo deixadas com infratores, que podem ficar como seus “fiéis depositários”.
Soltar aves na natureza é uma solução, mas precisa ser planejada. Estudos mostram que algumas aves podem se adaptar bem após o cativeiro, ajudando as populações nativas a se recuperar.
Alguns estudos mostram casos de sucesso, como o dos papagaios reintroduzidos no Parque Nacional das Araucárias, em Passos Maia e Ponte Serrada (SC). Porém, mais pesquisas são necessárias para entender os impactos das solturas. Dados científicos de qualidade são essenciais para orientar essas decisões, pois não se trata de algo simples.
A reabilitação e a soltura: A jornada para minimizar os impactos do tráfico de animais
Garantir a adequada reabilitação dos animais apreendidos, vítimas da ação humana, e o seu retorno ao habitat que um dia ocuparam é essencial para minimizar os impactos do tráfico. A reabilitação emerge como um componente vital, um processo delicado que visa preparar os animais tanto fisicamente quanto mentalmente para a vida selvagem.
A importância da reabilitação não pode ser subestimada. Os animais vítimas do tráfico frequentemente enfrentam um cenário de trauma físico e emocional incalculáveis. Cuidados veterinários especializados são necessários para tratar de ferimentos e doenças resultantes do cativeiro ou transporte insalubre. Além disso, o processo envolve a construção de habilidades essenciais para sobreviverem por conta própria.
Entretanto, essa trajetória não é nada simples. A complexidade de replicar ambientes naturais, de aplicar treinamentos que reduzam os comportamentos estereotipados e de garantir que os animais manifestem seus instintos naturais pode ser imensa. A falta de conhecimento sobre comportamentos específicos de cada espécie e a variedade de necessidades individuais tornam a reabilitação um processo altamente personalizado.
Mas a jornada não termina na reabilitação. A soltura é o próximo passo crucial, onde os animais enfrentam os testes do habitat que um dia ocuparam. O processo demanda meticulosidade na escolha de locais apropriados e monitoramento constante para assegurar que os animais se adaptem com sucesso.
A reabilitação e soltura de animais vítimas do tráfico é uma tarefa árdua. Cada animal que tem uma reabilitação bem-sucedida, liberado em seu ambiente natural, carrega consigo a esperança de um futuro mais harmonioso para a biodiversidade que todos nós compartilhamos.
Passos para uma soltura bem-sucedida:
Para guiar esse processo, alguns protocolos são estabelecidos e algumas regras precisam ser seguidas para que se tenha sucesso na soltura do animal. Listamos alguns dos passos necessários para a soltura:
Avaliação da Viabilidade: Antes de reintroduzir aves vítimas do tráfico, é fundamental realizar avaliações detalhadas para garantir que o habitat seja adequado e que a população local possa sustentar a soltura.
Reabilitação Adequada: As aves resgatadas devem passar por um processo de reabilitação que inclui cuidados veterinários, treinamento para sobrevivência na natureza e minimização da habituação humana.
Monitoramento Contínuo: Após a soltura, um monitoramento constante é essencial. Isso permite ajustes rápidos e a coleta de dados valiosos para avaliar o sucesso da soltura e a adaptação das aves.
Benefícios para a Natureza e Sociedade: A soltura de aves vítimas do tráfico não beneficia apenas a natureza, mas também as comunidades locais e a sociedade em geral. Ecossistemas restaurados resultam em serviços ecossistêmicos melhorados, como polinização de plantas, controle de pragas e manutenção da qualidade da água. Além disso, projetos de soltura podem inspirar a educação ambiental e estimular a conscientização sobre a importância da conservação da vida selvagem.
A reintrodução de aves vítimas do tráfico de animais silvestres é um passo crucial em direção à restauração da biodiversidade e à proteção dos ecossistemas. Esses esforços não apenas oferecem uma segunda chance para as aves resgatadas, mas também ajudam a reequilibrar a relação entre humanos e a natureza.
Com avaliações cuidadosas, reabilitação adequada e monitoramento contínuo, podemos nutrir a esperança de que essas aves poderão alçar voos livres novamente, contribuindo para a beleza e a vitalidade de nosso planeta.
Mas ainda sim, a melhor alternativa para evitar toda essa cadeia de problemas e questões, é combater o tráfico de animais silvestres e conscientizar a população sobre os perigos e danos da aquisição de animais silvestres como pets.
Autor: Juliana Cuoco Badari