O Pantanal é um dos ecossistemas mais ricos e diversos do planeta, ocupando uma vasta área no centro-oeste do Brasil, estendendo-se também para o Paraguai e a Bolívia. Conhecido por sua impressionante biodiversidade e suas características únicas de inundação sazonal, o Pantanal é a maior planície inundável do mundo. No entanto, apesar de sua importância ecológica, o Pantanal tem enfrentado uma crescente ameaça de queimadas, que afetam gravemente sua integridade ecológica e a vida selvagem que nele habita.
Segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da UFRJ, o ano de 2024 já superou em 39% a área queimada no mesmo período quando comparado a 2020, o pior ano em área destruída no bioma até então.
Até o mês de julho, o acumulado da área queimada totalizava 712 mil hectares. Para se ter uma noção, estamos falando de uma área equivalente a 3890 campos de futebol por dia em média, apenas no primeiro semestre de 2024.
A vegetação, os animais e as pessoas que ali vivem pedem socorro!
Causas das Queimadas
O Pantanal é um bioma naturalmente alagado, que passa por alternância, durante o ano, de maior ou menor quantidade de água. Assim, diferentemente do Cerrado, por exemplo, a presença de incêndios não é um fenômeno natural que faz parte do bioma, sendo uma junção da atividade humana de queimadas, com as mudanças climáticas, alterando o ciclo da água no ecossistema.
A expansão agrícola e pecuária, a construção de estradas e o aumento da demanda por terras têm levado ao desmatamento e à fragmentação do habitat, aumentando a vulnerabilidade da região a incêndios.
O ciclo de queimadas no Pantanal é exacerbado por práticas agrícolas insustentáveis, como a queima de vegetação para preparação de terrenos agrícolas e pastagens. Além disso, a falta de infraestrutura adequada para controle de incêndios e a ausência de políticas ambientais eficazes contribuem para a dificuldade em controlar e conter as queimadas. As queimadas também têm sido intensificadas por condições meteorológicas adversas, como períodos prolongados de seca, que tornam a vegetação mais seca e, portanto, mais inflamável.
Impactos Ambientais
As queimadas têm um impacto devastador sobre o meio ambiente do Pantanal. Um dos efeitos mais imediatos é a destruição da vegetação, que desempenha um papel crucial na manutenção da biodiversidade e na regulação do ciclo da água. A perda de vegetação resulta em erosão do solo e redução da qualidade da água, afetando diretamente os habitats aquáticos e terrestres. Ou seja, a presença constante de incêndios gera um ciclo vicioso de mais crise hídrica, que propicia ainda mais queimadas.
O Pantanal é conhecido por sua rica fauna, incluindo espécies ameaçadas como a onça-pintada (Pantera onca) e o cervo-do-pantanal (Blastoceros dichotomus). A destruição de habitat causada pelas queimadas leva à perda de abrigo e alimento para essas espécies, ameaçando sua sobrevivência.
Além disso, as queimadas liberam grandes quantidades de dióxido de carbono e outros poluentes na atmosfera, contribuindo para as mudanças climáticas globais. O aumento da concentração de gases de efeito estufa tem impactos adicionais no clima local, exacerbando a frequência e intensidade das secas e das queimadas.
Depoimento da Presidente do Instituto Libio Raquel Machado
“Eu estive lá no Pantanal Sul, entre o Rio Aquidauana e o Rio Negro. Eu fiquei muito impressionada com o quão seco estava, muito seco e muito quente. O Rio Negro está muito baixo, inclusive tivemos que descer do barco em vários trechos porque a água do rio estava na altura dos tornozelos. Isso eu nunca vi na minha vida.
Um dia antes de irmos embora, vimos uma nuvem preta no sentido do Rio Negro e começou a pegar fogo numa fazenda ali do outro lado. Foram acionados o PrevFogo, o SOSPantanal, o Instituto Tamanduá e o Onçafari, com várias pessoas para ajudar ali, mas como estava muito seco e com muito vento, o fogo se alastrou muito rapidamente e sem controle. O fogo pula aceiros, pula rio… ele começou do outro lado do Rio Negro e veio para o lado de cá, na Reserva de Santa Sofia. Foi desesperador.
O céu de Bonito estava cinza de fumaça. Enquanto as outras instituições estão trabalhando no Pantanal Sul, nós vamos dar apoio ali na região da Serra da Bodoquena, em Bonito. Os animais estão sendo resgatados queimados. A Polícia Ambiental avistou só em um dia três tamanduás queimados que estão tentando resgatar. Então algumas medicações já estão acabando, por isso estamos correndo contra o tempo para tentar comprar esses medicamentos. E além de tudo, os animais que sobrevivem a tudo isso, estão sem comida, pois foi tudo queimado.”
Medidas e Soluções
Para enfrentar o problema das queimadas no Pantanal, é essencial adotar uma abordagem integrada que envolva a proteção e a restauração dos habitats naturais, a implementação de práticas agrícolas sustentáveis e a criação de políticas públicas eficazes. É importante salientar que, apesar do número recorde de queimadas, o trabalho de brigadistas, voluntários e profissionais que trabalham no terceiro setor, com o SOSPantanal, o Instituto Tamanduá e o Onçafari, continua intenso, na tentativa de mitigar os efeitos das queimadas
A restauração de áreas degradadas e a recuperação da vegetação nativa são fundamentais para a recuperação da biodiversidade e a manutenção dos serviços ecossistêmicos. Além disso, é crucial promover a conscientização e o engajamento das comunidades locais, que desempenham um papel vital na conservação do Pantanal. O fortalecimento das políticas públicas e a implementação de medidas de fiscalização rigorosas são necessários para combater as práticas ilegais e garantir a proteção da região.
As queimadas no Pantanal brasileiro representam um desafio significativo para a conservação desse ecossistema único e vital. As atividades humanas têm causado danos profundos à vegetação, à fauna e ao clima da região. No entanto, com esforços coordenados e a implementação de medidas eficazes, é possível mitigar os impactos das queimadas e trabalhar para a preservação e recuperação do Pantanal. A proteção deste ecossistema não é apenas uma responsabilidade local, mas uma necessidade global, considerando seu papel crucial na biodiversidade e na regulação climática. A conscientização e a ação conjunta são essenciais para garantir um futuro sustentável para o Pantanal e para as gerações futuras.