Você já ouviu falar em Saúde Única? 

Saúde Única se refere a uma abordagem integrada que reconhece a conexão entre a saúde humana, animal e ambiental. De acordo com o Ministério da Saúde:  “é uma abordagem global multissetorial, transdisciplinar, transcultural, integrada e unificadora que visa equilibrar e otimizar de forma sustentável a saúde de pessoas, animais e ecossistemas”.Nós somos marcados pelas inter-relações entre seres humanos, animais e meio ambiente e não há dúvidas de que um interfere no outro. As consequências dessa interconexão podem ser harmônicas, mas quando um dos elementos se desequilibra, impacta nos outros com quem ele se relaciona. 

O conceito surgiu em resposta às evidências de propagação das zoonoses, doenças transmitidas dos animais para os seres humanos e à crescente percepção da interdependência entre a saúde humana e animal, juntamente com as mudanças ecológicas.

Foto: adaptado de – prezode.org/about/the-one-health

Você já parou para pensar que tudo em nosso planeta está interligado?  

O mundo globalizado que vivemos está em constante mudança e cada vez mais conectado, o que tem interferido diretamente em nossas vidas: a crescente expansão da população, a urbanização, mudanças climáticas  no uso da terra, poluição do ar nos centros urbanos, falta de tratamento de esgoto adequado e áreas contaminadas por produtos químicos, modelos insustentáveis de produção e consumo, perda de biodiversidade e habitat. Com o passar do tempo, tudo isso vem aumentando em frequência e gravidade gerando impactos a longo prazo. 

Qualquer mudança no meio, por menor que seja,  gera modificações nas cadeias biológicas e facilita o surgimento de doenças. Nos últimos anos temos vivenciado um aumento de casos relacionados com as alterações do ambiente. 

O consumo não responsável traz consequências negativas não só aos humanos, mas a todos os seres vivos, afetando as relações ecológicas entre eles. 

Ainda assim, para muitos não faz sentido entender a importância de agirmos individual e coletivamente para que espécies animais e vegetais não sejam prejudicadas, portanto, trabalhar na formação dessa percepção é um enorme desafio para a educação ambiental. 

A educação ambiental parte do princípio no qual o conhecimento pode atuar como ferramenta de promoção à saúde e minimização dos riscos sanitários, de forma que cada cidadão atue de modo ativo em diversas áreas da sociedade, a fim de minimizar doenças e o sofrimento das espécies envolvidas. 

A conservação do meio ambiente caminha ao lado da saúde humana e a educação tem papel relevante para a universalização de boas práticas em saúde.

Direito à Educação e Saúde 

A educação e a saúde são direitos fundamentais da população garantidos legalmente, já pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948 e pela Constituição Federal do Brasil de 1988. Deste modo, é essencial pensar estratégias para melhorar seu acesso, fortalecimento e qualidade. O direito à Educação é principalmente desenvolvido e regulamentado em ambientes formais, como escolas e demais instituições de ensino, seguindo documentos normativos e estratégias didáticas diversas. Além disso, a Constituição brasileira de 1988, em seu artigo 225, estabelece o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, considerado um bem essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se sua defesa e preservação ao Poder Público e à coletividade.

A abordagem da Educação Ambiental pelos educadores durante o ensino traz muitas vantagens, pois ao sensibilizar os estudantes consegue-se despertar interesses nunca vistos antes sobre conservação e preservação do meio ambiente. A Educação Ambiental e Saúde estão intimamente relacionadas, pois de acordo com Machado (2018), apenas um ambiente social ecologicamente equilibrado é capaz de garantir uma qualidade de vida sadia, além disso, a abordagem destas temáticas em ambiente escolar tem a capacidade de “encorajar a análise dos problemas socioambientais existentes, estimular práticas e atitudes mais éticas, e possibilitar o desenvolvimento de atividades que resgatem o patrimônio ambiental e incentivem a preservação” (MACHADO, 2018, p. 279). 

Já, a saúde está intimamente ligada ao atendimento das necessidades básicas da população e, consequentemente, à situação de pobreza que é um significativo determinante da saúde e das doenças. Assim, cabe ressaltar que apenas atuando para que a pobreza seja reduzida é que pode haver melhoria na saúde. 

Grande parte das pessoas ainda não têm acesso aos serviços de saúde, embora sejam garantidos pela Constituição Brasileira que a saúde é direito de todos e dever do Estado (Brasil, 1988, art.225). 

Boa parte dos agravos da saúde está relacionada com a degradação ambiental, pois as alterações do meio ambiente interferem muito e na qualidade de vida das pessoas, destacando-se a poluição da água, do ar e solo. 

Saúde e meio ambiente estão ligados e a sua manutenção saudável depende de uma constante vigilância epidemiológica e ambiental. 

O Estado deve cumprir sua atribuição prevista na Constituição Federal de 1988 e da sociedade em exercer seu papel de participante e usuária, a fim de que ambos possam desenvolver em conjunto um sistema de monitoramento e políticas públicas de prevenção, controle e recuperação das doenças e manutenção da saúde. 

Caberá a educação ambiental e saúde preparar a população para essa participação que deve ser muito maior do que apenas mudar o seu comportamento e suas práticas, criando também condições para que os objetivos da vigilância epidemiológica e ambiental sejam alcançados. 

Conferências na Educação Ambiental 

Uma das mais importantes conferências internacionais na área ambiental aconteceu em 1972, em Estocolmo, na Suécia, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em que claramente também foi estabelecida a relação da saúde/doença com o meio ambiente e com o desenvolvimento. 

Desde então não há mais como separar as áreas da saúde e meio ambiente, uma vez que boa parte das doenças é decorrente da poluição da água, do ar e do solo, constituindo-se, portanto, o meio ambiente num determinante extremamente importante da saúde humana e da qualidade de vida a todos os seres vivos. 

Em 1977, em Tbilisi, na Geórgia, a primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental propôs a adoção de estratégias de atuação modernas para o estabelecimento de uma nova ordem internacional como ética, solidariedade e equidade nas relações entre as nações, uma nova ordem baseada na ideia de que a defesa e a melhoria do meio ambiente para as futuras gerações constituem um urgente objetivo da humanidade e devem contar com a participação de todos os países. 

Considerou a educação como fundamental para a formação da ciência e da construção de conhecimentos que possibilitem melhor compreensão de causas e consequências dos problemas que afetam o meio ambiente no contexto de suas realidades específicas, bem como para o desenvolvimento de competências não só para a defesa, proteção e recuperação das áreas ambientais, mas principalmente, para a melhoria da qualidade de vida somente alcançada por meio da transformação da realidade social vigente. 

Inúmeros problemas ambientais advêm de problemas sociais como a miséria e muitas vezes, são gerados por modelos econômicos concentrados de riqueza e geradores da degradação ambiental, assim como pela falta de conhecimento da sociedade frente aos problemas de saúde. Desta forma, o lugar da Educação Ambiental não é somente o aspecto ecológico de uma dada questão ambiental, mas também se caracteriza por incorporar as dimensões socioeconômicas, políticas, culturais e históricas, entre outras. 

Saúde Única 

A abordagem da Saúde Única surgiu como um pensamento mais forte devido aos riscos de doenças que podem ser causadas nos seres humanos, em decorrência de desequilíbrios que ocorram entre essa relação ser humano, animal e meio ambiente.  Vários surtos, pandemias e doenças endêmicas ocorrem ou mudam o padrão devido a esse desequilíbrio. Chegou-se à conclusão que não vale agirmos somente tentando prevenir ou controlar a doença com ações voltadas para os seres humanos, porque não terá efetividade. É necessário olhar para o todo.

São exemplos de doenças que surgiram em animais por uma interface muito próxima entre animal silvestre, animal doméstico, ser humano e meio ambiente é a gripe espanhola, a toxoplasmose, a leptospirose, o HIV, o ebola, a raiva, o sarampo, a leishmaniose, dentre inúmeras outras. 

Um outro exemplo que vivenciamos e que mudou radicalmente nossas vidas foi a pandemia decorrente da Covid-19 que alterou as formas de relacionamento social e, sobretudo, da sociedade com os ecossistemas naturais. Com a paralisação inicial dos meios de transporte, indústria, comércio e serviços, eventos geográficos e ambientais jamais vistos foram perceptíveis no dia a dia e mostrados pela mídia. Dentro de casa os seres humanos puderam parar para pensar na justificativa do surgimento da pandemia da Covid-19 e sua ampla disseminação em todo o globo. Alguns indivíduos mais instruídos já sabiam ou buscaram mais informações sobre as reais causas e consequências da disseminação do Coronavírus, enquanto outros não tinham sequer uma dimensão sobre a relação das práticas humanas, no geral destrutivas, sobre o meio ambiente e a consequente resposta representada pela pandemia da Covid-19.

Ao refletir sobre a relação dos seres humanos com a degradação dos habitats naturais e o surgimento de pandemias é urgente colocar em primeiro plano a interdependência do ser humano e demais elementos políticos e econômicos e que o equilíbrio da natureza não depende exclusivamente dela mesma, mas de todas as espécies que interagem nela e principalmente a espécie humana com seu amplo poder de transformação. Portanto, a corresponsabilidade e a sensibilização diante das práticas predatórias sobre o meio ambiente são fundamentais para uma qualidade ambiental e de vida mais justa e digna.

Dessa forma, a Educação Ambiental tem uma contribuição fundamental para a formação de sujeitos sociais comprometidos com a qualidade de vida socioambiental num plano coletivo e isto inclui, certamente, as práticas sociais que podem salvar vidas. Em outros termos, a Educação Ambiental atua como propulsora de um modo de existência humana que se compromete com as questões ambientais em vários níveis e graus de complexidade, inclusive no entendimento do quão necessário é adotar outras maneiras que permitam a convivência social e a manutenção da vida do individual ao coletivo. Porém, que seja dito com clareza, que não se trata de um novo apostilamento de boas práticas em Educação Ambiental, tendo a pandemia e o pós-pandemia como plano de fundo, mas a construção individual-coletiva de práticas pedagógicas libertadoras e que tecem existências centradas em novos valores e numa ética socioambiental que abraça a vida na Terra como causa a ser levada como compromisso cotidiano. Dentre tantos termos e nomenclaturas, aborda-se uma Educação Ambiental crítico-transformadora. 

Grupo de pessoas na grama posando para foto

Descrição gerada automaticamente
Alunos da EMEF Profª. Vilma Fernandes Antonio discutindo sobre a conexão entre o meio ambiente, ser humano e animais durante visita ao Mantenedor de Fauna do Instituto Libio no Projeto “De Olho na Natureza de Porto Feliz”.

 

Diante de todo esse cenário, observa-se que é essencial unir pesquisadores, professores e estudantes de diferentes cursos, profissionais de saúde que atuam nos serviços relacionados a essa causa, como saúde animal, humana e ambiental, assim como profissionais de empresas privadas e governamentais para que desenvolvam atividades relacionadas à Saúde Única, pois torna-se mais eficiente prevenir o desequilíbrio no meio ambiente, na saúde dos animais e na saúde do ser humano e pode evitar epidemias, endemias, inclusive pandemias.

Portanto, a Saúde Única nos lembra que a saúde e o bem-estar de todos nós estão intrinsecamente ligados. Cuidar da saúde humana, animal, ambiental e dos ecossistemas é essencial para garantir um futuro sustentável e saudável para todos. Ao reconhecer essa interconexão, podemos trabalhar juntos para promover a harmonia entre todos os componentes e alcançar uma vida plena e equilibrada.

Mão segurando pedaço de planta verde

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