No Brasil, 475 milhões de animais silvestres morrem por ano nas estradas brasileiras. Isso é mais do que o dobro da população de brasileiros. São 17 mortes por segundo, 1,3 milhão por dia.

A Bióloga Fernanda Abra, em matéria publicada feita National Geographic Brasil, afirma que “o atropelamento de animais silvestres é a principal causa de perda crônica de fauna no Brasil, junto com a caça ilegal e o tráfico de animais”. A mesma matéria afirma que essa retirada em grande quantidade de animais da natureza tem impacto ainda maior em espécies em risco de extinção, de reprodução lenta – que não aguentam fortes pressões do meio externo – e aquelas consideradas topo de cadeia, das quais muitas outras dependem para sobreviver.

Os dados em qualquer região do Brasil que são estudados são alarmantes:

No Mato Grosso do Sul o Instituto de Conservação de Animais Silvestres, desde 2017 acompanha a situação das rodovias com o Projeto Bandeiras & Rodovias. Durante três anos, a equipe monitorou 14% das rodovias asfaltadas do estado do MS para mapear onde os animais estavam morrendo. No total, foram apenas 1.158 km monitorados e 12.398 animais mortos por colisões veiculares, incluindo 1.237 mamíferos listados como vulneráveis à extinção pelo Ministério do Meio Ambiente. Para piorar a situação, os números ainda são muito subestimados porque é preciso considerar que muitas carcaças somem antes de serem contabilizadas e que alguns animais são atropelados, mas acabam morrendo longe da rodovia. Resumidamente os pesquisadores estimam que mais de 30 mil animais são atropelados por ano nas rodovias do estado do MS, sendo que apenas aqueles com peso maior que 1 kg foram considerados no cálculo.

Arnaud Desbiez, que coordena o projeto Bandeiras e Rodovias e estuda atropelamentos de mamíferos de médio e grande porte, sobretudo tamanduás, em estradas do MS. Em sua pesquisa, acompanhou sistematicamente, por dois anos e meio, um total de 1.337 km. Apenas nesses trechos foram registrados 8.894 atropelamentos no período. O estudo também monitorou mais de 40 tamanduás-bandeira, o que possibilitou levantar a extensão do habitat e das relações com as paisagens do entorno das rodovias. Os dados obtidos permitiram estimar taxas de mortes, analisar os padrões temporais e espaciais dos acidentes e ajudar a calcular o risco de atropelamento para uma variedade de espécies e os prováveis impactos em populações. Entre os mais atingidos estão o tatupeba, o cachorro-do-mato, o tatu-galinha e o próprio tamanduá-bandeira. No caso dos tamanduás-bandeira, Desbiez estima que as rodovias são responsáveis por cortar pela metade a taxa de crescimento das populações. “Isso significa que eles têm mais dificuldade de se recuperar de outras ameaças, como perda de habitat, conflito com cachorros, fogo, entre outras”.

De acordo com o Observatório de Imprensa, Avistamentos e Ataques de Onças (OIAA Onça) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), cerca de 90 onças são atropeladas por ano no Brasil. A situação é pior nos estados do Sudeste, onde estão 27% das rodovias brasileiras — a região concentra, em média, 40% dos atropelamentos de onças.

Carvalho et al. (2015), registraram um alto número de atropelamentos na BR-050, rodovia que se localiza em Uberlândia e Uberaba. No período de abril de 2012 a março de 2013 foram registrados 683 vertebrados atropelados, destes 482 eram mamíferos, o alto número de incidentes com esta classe, segundo os autores, se dá devido à presença abundante da vegetação de mata atlântica e cerrado.

Além da morte dos animais, que conta somente pela perspectiva da conservação da fauna, deve-se ressaltar a gravidade das colisões para a segurança humana. Os acidentes com animais tem levado a morte de pessoas.

  1. Em 2015, uma van com nove ocupantes tentou desviar de uma anta na BR-267, no município de Nova Alvorada do Sul (MS) e capotou. Por sua vez, uma carreta carregada de glifosato que vinha no sentido contrário atingiu a van. Oito pessoas, além da anta, morreram, e duas ficaram feridas no mais grave acidente com fauna silvestre já registrado no Brasil. Os veículos pegaram fogo e houve derramamento de produto perigoso na pista.

A legislação brasileira prevê, tanto na Constituição Federal quanto no Código do Consumidor, que o administrador rodoviário seja o responsável por acidentes com animais. Entre 2003 e 2013, a Polícia Militar Rodoviária do Estado de São Paulo registrou 28.724 ocorrências do tipo, 3,3% do total das colisões. Por ano, em média, foram 20 vítimas humanas fatais e mais de 100 feridas gravemente. Entre 2005 e 2014, R$ 24 milhões foram gastos em compensações financeiras às vítimas em acidentes com fauna no estado.

“É inaceitável que tenhamos que continuar assistindo a morte de tantos animais nas estradas brasileiras, levando a morte de pessoas. Este assunto precisa ser tratado com mais seriedade pelos órgãos licenciadores “ Raquel Machado.

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